“Quando o primeiro espertalhão encontrou o primeiro imbecil, nasceu o primeiro Deus“. (Jason Stock)
A origem da religião e o primeiro Deus são assuntos de controvérsia. Provavelmente, a primeira atitude religiosa do homem foi o naturalismo religioso, isto é, a adoração de objetos e fenômenos da natureza. Qualquer agrupamento humano que se mantém coeso por muito tempo cria sua mitologia. Desde o alvorecer da história, o homem procura divindades e heróis. A seguir, em vez do culto do objeto físico passou a reverenciar o “espírito” ou a “alma” (que hoje são um comércio muito rentável) do objeto ou fenômeno. Todas as civilizações, todas as culturas tentaram, com níveis de sucessos variáveis, encontrar uma resposta adequada a todas essas questões. Elas sentem a necessidade de se prevenir contra os caprichos das forças da natureza: inundações, secas, terremotos, eclipses, raios, etc. Procuram desesperadamente a causa de todas as coisas, assim como o “pai protetor”.
“Em busca de uma explicação, os primitivos inventaram divindades antropomórficas; eles antropomorfizaram a natureza.” (Paul Diel, O Simbolismo na Bíblia, Ed. Payot 1975/1996, p. 23).
Uma das explicações é que o homem logo começou a ver as coisas a seu redor como animadas. Sem dúvida, a ignorância sobre a natureza do vento, respiração e circulação de animais levou-os a construir uma “explicação” sobre as coisas de seu mundo. Ele acreditava que os animais, as plantas, os rios, as montanhas, o sol, a lua e as estrelas continham espíritos, os quais precisavam ser apaziguados. O antropólogo E. B. Tylor (1832-1917) batizou essa crença de animismo. O animismo (de “anima”, alma ou espírito em latim) é a crença de que praticamente todo lugar, todo animal, toda planta e todo fenômeno natural tem consciência e sentimentos, e que pode se comunicar diretamente com os humanos. O Taoísmo (China) se aproxima do animismo – a idéia de que todas as coisas, incluindo montanhas, pedras e plantas, são dotadas de “espírito” e “poder”.
OS PRIMEIROS DEUSES
Os primeiros foram os espíritos gloriosos dos xamãs ou chefes mortos quando esses tinham alguma sensibilidade especial. Fincaram no solo um poste, ou uma pedra, no lugar do encontro, e disseram para o homem-animal: esteja aqui na próxima vez que a luz que muda (a Lua) estiver redonda, e nos encontraremos de novo. O marco era uma espécie de presente misterioso para entrar em contato com Ele. Passaram a ajoelhar-se e orar diante dele e matavam seus semelhantes que se recusassem a acreditar nele. Os vestígios arqueológicos mostram que os corpos eram sepultados junto a ornamentos, armas e comida, o que demonstra que nossos antepassados não encaravam a morte como um fim definitivo.
O homem passou a reverenciar o “espírito ou a alma” do objeto ou fenômeno. Possivelmente, foi durante um desses longos períodos (para ele) de espera, que o homem-animal achou que, se ele trouxesse algo para o local do encontro e deixasse ali um presente, talvez o visitante fosse induzido a descer do céu um pouco antes da época marcada, e assim ele poderia pedir um conselho ou resolver um problema. Foi assim que o homem fez o seus primeiros sacrifícios e oferendas.
Passou também a venerar os animais que caçava e que foram simbolizados em pinturas rupestres e pequenos entalhes. O sacerdote misto de xamã e curandeiro começou a vestir a pele dos animais e se adornava com suas guampas, preparava poções e unguentos por inspiração de forças superiores divinas somente transmitida a esses xamãs. Tentava, como acontece ainda hoje com o Homo sapiens, obter boas caçadas e um destino próspero para a tribo por meio de promessas e magias. O sacerdote não criou a religião, apenas utilizou-se dela como o estadista se utiliza dos impulsos e costumes da humanidade.
Foi nesse período animista que surgiu a adoração, o culto de forças sobrenaturais e o culto dos antepassados: dos deuses manes, como diziam os romanos. A divinização do espírito duplo ou alma das coisas e dos antepassados foi o passo seguinte, um pouco mais abstrato na evolução religiosa. E a ideia do medo dos infernos, da insegurança, da fraqueza do homem na Terra, culto dos mortos, medo dos deuses, esperanças do céu foram os causadores da religião. Surgiu assim uma nova profissão do mundo: se o sacerdote não aparecesse, o povo o inventaria para receber o falso conforto sobrenatural.
Houve um tempo em que as pessoas olhavam para o céu e pensavam que o que viam era a parte debaixo do assoalho do mundo dos deuses. E entenda isso literalmente. Era como se o céu fosse o teto do seu apartamento; o vizinho do andar de cima seria um Deus.
Nossos mais longínquos antepassados, pelo menos, estão justificados do seu equívoco: os sentidos eram suas únicas fontes de informação. E eles viam cair coisas lá de cima, como chuva, neve, granizo, raios, meteoritos; ouviam trovões e contemplavam relâmpagos; admiravam-se do globo incandescente que tudo iluminava durante o dia, e daqueles pontinhos brilhantes, também lá no alto, à noite; além daquele outro disco de luz mais branda que mudava de forma de tempos em tempos, e que, às vezes, simplesmente desaparecia do céu noturno, deixando-os entregues à escuridão.
Deveria, então, haver alguém ali em cima. Senão, como se justificaria tudo aquilo? Eles não tinham nada mais com o que contar além da própria imaginação.
Das culturas primitivas, lentamente resultaram novas ideias e o homem passou da infância do barbarismo das religiões politeístas para o jardim da infância da civilização até a chegar à “Disneylândia” com homens-bomba da religião monoteísta da civilização atual. Foi desse modo que, a princípio, o homem ignorante criou um Deus de acordo com sua própria imagem até os nossos tempos. Historicamente, não é possível definir qual foi a primeira tribo a criar o conceito de divindade. Contudo, os escritos mais antigos até hoje encontrados referem-se às concepções mitológicas vindas das religiões sumerianas, védica e egípcia, as quais surgiram por volta de 3600 a.E.C. (antes da era cristã).
Sob essas infelizes circunstâncias desenvolveram-se as técnicas com as castas de teólogos, exegetas e hermeneutas religiosos. Os que assumiram o lado legislativo do homem-animal, conforme a ideia do seu irmão do Céu, tornaram-se líderes religiosos e formaram a classe dos sacerdotes. E os que assumiram o lado administrativo da ideia do homem-animal, incutido pelo Irmão do Céu, aqueles que se tornaram controladores e líderes pela força formaram os seus exércitos. Estava feita a união entre Igreja e Estado com privilégios para ambos, para em um espetáculo para multidões conquistar uma massa de rebanho, sem força, individualidade ou autonomia, com uma moral massificadora de fracos e de escravos com regras que limitam o ser humano.
Nas aulas de religião passaram a ensinar que Deus tinha criado o mundo e muitos se contentaram com isso. Mas e o próprio Deus quem criou? Teria ele se criado a partir do nada absoluto? Dificilmente ele poderia ter criado a si mesmo, sem antes possuir um “si mesmo” através do qual pudesse criar. Se Deus sempre existiu, Ele tinha que ter tido um começo. Mas a explicação é muito simples:
“OS HOMENS CRIARAM OS DEUSES À SUA IMAGEM E SEMELHANÇA”.
Então dizem os sacerdotes ao povo: Em nossos transes (visões e alucinações) e por meio de nossas orações e nossos sacrifícios para vocês (e algumas vezes de vocês), entramos em contato com o Céu e Ele nos fala. Foi isso o que ele disse, e vocês devem obedecer a mim, a Ele e ao filho único JC. A maior parte disso sai diretamente de nosso subconsciente sacerdotal, mas não importa. Eles conseguem o poder pelo qual anseiam, principalmente apresentando um ritual destinado a impressionar os crédulos em uma forma de hipnotismo de massa. E, em parte, em nossos dias mais civilizados eles conseguem seguidores, prometendo o inferno e a danação eterna aos que discordam deles e a “salvação” por meio do arrependimento.
O sacerdote passou a ser olhado como uma pessoa capaz de construir uma ponte sobre as águas, ou espaço, existente entre a Terra e a morada do além. Os sacerdotes declararam-se capazes de se comunicarem com essas entidades e colocaram-se na posição de organizar e transmitir conselhos, leis, regras, regulamentos, promessas e até de fazer profecias. A crença de que era possível transmitir o poder de comunicação levou à criação das Ordens Sagradas adaptadas em seus objetivos em diferentes épocas. Moisés “subiu” no monte Sinai e “falou” diretamente com Deus. O arcanjo Gabriel “visitou” Maomé em sua caverna. Samkasya, desceu do céu em uma escada de cristal depois de fazer uma visita aos deuses.
O próprio Papa é chamado Pontífice termo derivado da palavra latina que significa ponte (pons), porque se supõe que ele atue como elemento de ligação entre o Céu e a Terra, entre o Altíssimo e a Humanidade. Seria uma espécie de Vice de Deus. A ideia da ponte aparece em outros lugares nas religiões da humanidade, no sistema escandinavo onde na ponte do arco-íris, a passagem celestial por sobre a qual os valentes guerreiros que morriam em combate eram levados para o Valhala o enorme “Salão dos Mortos” com 540 portas onde Odin reina para desfrutarem da companhia dos deuses.
FREUD EXPLICA!
Até mesmo o famoso psicanalista austríaco Sigmund Freud (1856-1939), em seu livro Totem and Taboo (Totem e Tabu), tentou explicar a origem da religião. Freud explicou que a mais primitiva religião surgiu do que chamou de neurose e temor ligado à figura do pai. Espelhado no que o pai representava quando criança, desesperado em busca de proteção e que não virá da sociedade que o cerca, o homem se volta para aquela figura plena de força (uma entidade): onipotente, amoroso, porém duro.
Teorizou que, como se dava no caso de cavalos e gados selvagens, na sociedade primitiva o pai dominava o clã. Os filhos homens, que tanto odiavam como admiravam o pai, afirmava Freud, “estes selvagens canibais comiam a sua vítima”. Mais tarde por causa do remorso, eles inventaram ritos e cerimônias para reparar a sua ação.
Segundo a teoria de Freud, a figura do pai virou Deus, o homem inventou uma cópia Deus-Pai, substituto do pai, e finalmente um Deus é o Pai, Eterno, Todo Poderoso, Onipotente, Onisciente que tudo pode e que tudo vê, a fim de substituir o pai físico, falível e mortal por não suportar a ideia de estar só ante a jornada da vida. Os ritos e as cerimônias passaram a ser a mais primitiva religião.
O homem primitivo acreditava adquirir a força do organismo ingerido, e chegou naturalmente à concepção de comer o Deus. Em muitos casos comia a carne e bebia o sangue do ser humano que ele deificara e engordara para o sacrifício. Quando, com o aumento da fartura no mundo, o homem se tornou menos feroz, e veio a substituição da vítima por imagens. Só essas eram comidas. Na presença real de Cristo na eucaristia, bebem, comem, digerem e evacuam o corpo de Cristo. (“Tomai e comei, isto é o meu corpo”). Transformar vinho em sangue e pão em carne passou a ser a comunhão, tradição praticada em muitas religiões. Crença absurda e espantosa!
O canibalismo divino sobreviveu ao humano. E, afinal de contas, por que não? Se Deus pôde criar o mundo, seria bobagem prender-se a detalhes. Nada é impossível, apenas teoricamente impossível.
Com referência à imagem inicial acima, por incrível que pareça, o homem ajoelha-se, ainda hoje, diante do altar rústico, erguido pelo temor do homem primitivo castigado pelas forças adversas da natureza, e impotente para contê-las. Não é lógico que o homem que evoluiu conseguindo maravilhas, obtendo os meios necessários para definir e mesmo refrear os furores da natureza, paradoxalmente continue praticando os cultos de desagravo, criados pelos amedrontados ancestrais.
“Nunca tenha certeza de nada, porque a sabedoria começa com a dúvida”. (“Sigmund Freud”.)
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